Pandemia e economia: evidências da Gripe Espanhola

Um dos grandes escapes para a humanidade enfrentar problemas presentes, que irão impactar severamente o futuro, sempre foi recorrer às experiências passadas. Com a atual pandemia que ataca e compromete nossa sociedade não é diferente. De tempos em tempos, nosso bem-estar vem sendo testado com pandemias virológicas e algumas respostas para a Covid-19 podemos buscar de outra grande pandemia do século 20: a Gripe Espanhola. Essa, que ocorreu entre 1918 e 1920, infectou um terço da humanidade, em torno de 500 milhões de pessoas, sendo fatal para cerca de 50 milhões de pessoas.

Sem dúvida, o custo humano é irrecuperável. Porém, o que foi feito para conter a Gripe Espanhola? E qual foi o custo econômico das decisões tomadas? As questões são as mesmas que nos afligem hoje e que foram questionadas há um século. Um estudo recente publicado pela Social Science Research Network (SSRN) - "Pandemics Depress the Economy, Public Health Interventions Do Not: Evidence from the 1918 Flu" -, analisando 30 estados e 66 cidades nos Estados Unidos durante a grande onda da Gripe Espanhola em 1918, nos fornece alguns resultados sobre a correlação positiva entre intervenções não farmacêuticas (NPIs) e atividade econômica.

De acordo com o estudo, cidades que obtiveram índices maiores de mortalidade tiveram uma performance econômica pior na comparação com cidades pares que intervieram antes na atividade econômica para conter o contágio. Isso significa que um Estado, como aponta o estudo, com mortalidade de 147/100 mil habitantes obteve um aumento de 8% no desemprego relacionado à manufatura, no desemprego total de 0.5 pontos percentuais e uma queda de 6% na atividade econômica. No período posterior, a elevação da mortalidade para 416/100 mil habitantes implicou em um aumento de 23% do desemprego relacionado à manufatura e uma queda de 18% da atividade econômica em questão.

Nesse sentido, a correlação entre (i) a velocidade da intervenção não farmacêutica e (ii) o número de dias para acontecer esta decisão é estatisticamente forte com o crescimento econômico conseguinte entre 1919 e 1923. O resultado de uma intervenção não farmacêutica, entre duas regiões, de oito dias, é associado a uma taxa de emprego 4% maior, após o surto, para a qual tomou a decisão mais rapidamente. A mesma correlação é vista no tempo de duração da intervenção, ou seja, para 46 dias de diferença a taxa de emprego foi 6% superior. Também a diferença de um desvio-padrão (dispersão em torno da média) na velocidade de implementação do LockDown significou uma diferença 5% maior no resultado da produção manufatureira. Da mesma forma, a diferença de um desvio-padrão no número de dias da intervenção nos locais obteve resultado 7% superior.

O estudo nos mostra que cidades que adotaram o LockDown antes e de forma mais intensa apresentaram uma atividade econômica superior após a pandemia. Sendo a taxa de mortalidade altamente correlacionada com uma piora dos fatores de produção e o LockDown eficaz contra o mesmo, os resultados foram melhores para as regiões que adotaram esse modelo antes e de forma mais intensiva. Reagindo 10 dias antes da pandemia, no período subsequente, a taxa de emprego em manufatura foi 5% maior, e estendendo o tempo de LockDown para 50 dias a taxa de emprego observada foi de 6,5% maior.

Infelizmente, a Gripe Espanhola é a única pandemia global da qual possuímos grandes registros e ,consequentemente, resultados posteriores sobre os efeitos na economia. No entanto, uma conclusão que podemos retirar é que a letargia da sociedade pode ser fatal. A rápida supressão do vírus, tanto durante a Gripe Espanhola quanto do Covid-19, em sociedades como Taiwan e Singapura, nos mostraram que o Trade-Off entre economia e saúde pode ser ignorado - é possível salvar os dois! De outra forma, talvez seja tarde demais. Qualquer ameaça à sociedade deve ser reprimida com veemência e seriedade.

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